Rádio Jornalismo Esportivo no Brasil

Fox Xavier | 22:54 | 1 comentários

O rádio viveu três momentos cruciais: sua invenção e propagação pelo mundo, o advento da televisão e o desenvolvimento da internet e o desenvolvimento da internet. Mergulhando nas circunstâncias desses acontecimentos, o rádio sofreu modificações profundas até chegar ao que é hoje.

Contribuindo para a difusão de notícias e entretenimento, massificando o acesso à cultura e o esporte
.

A história:

O paulista Nicolau Tuma foi o pioneiro das irradiações de futebol no Brasil, pela Rádio Sociedade Educadora Paulista. Até aquele momento, as emissoras telefonavam para os clubes ou entidades organizadoras dos campeonatos para obter as informações sobre os jogos e depois anunciavam os resultados. Em relação à primeira irradiação desse

esporte, em 19 de julho de 1931, vale destacar que Nicolau Tuma, pouco antes do início do jogo, esteve nos vestiários das equipes, com o intuito de memorizar as características físicas de cada atleta, porque até então, não havia numeração nas camisas dos jogadores.

Naquela época o locutor atuava sozinho, sem a presença de repórteres ou comentaristas.

Por essa razão, Tuma improvisou e narrou das arquibancadas, próximo aos torcedores.



Como a publicidade oficial só foi regulamentada no ano seguinte, o espaço não

preenchido pelos anúncios era substituído pelo narrador, que tinha de falar sozinho todo o primeiro e o segundo tempos. Assim sendo, Nicolau Tuma precisou criar um estilo, pois ninguém havia realizado uma narração na qual ele pudesse ter se inspirado.

Ele optou por uma descrição fotográfica, a fim de dar ao ouvinte a imagem exata do campo e do jogo. Determinado a cumprir a decisão de filmar oralmente o jogo, o locutor é obrigado a narrar em alta velocidade, enunciando os detalhes como uma metralhadora de palavras. Nicolau Tuma ficou conhecido como “Speaker Metralhadora”, por pronunciar até 250 palavras por minuto.



Já o responsável pela irradiação pioneira no estado do Rio de Janeiro foi o locutor esportivo Amador Santos, pela Rádio Clube do Brasil os cariocas descreviam o lance pausadamente, ao contrário dos paulistas, que apresentavam narrações com mais rápidas. Naquele período, a tecnologia, como é conhecida atualmente, estava distante dos radialistas, e as irradiações eram realizadas pelo telefone.

Já no início da década de 1930, os locutores de futebol começaram a passar o microfone para os profissionais dos jornais para perguntar a opinião deles sobre a partida. Com o passar dos anos, esse procedimento se modificou, até surgirem os comentaristas do jogo e de arbitragem, além dos repórteres de campo e os plantonistas.



Em 1933, dirigentes dos clubes de futebol de São Paulo alegaram que as transmissões

radiofônicas diminuíam o público nos estádios paulistas. No ano seguinte, as rádios

estavam proibidas de entrar nos locais dos jogos. Entretanto, a exclusividade dos

direitos de transmissão em São Paulo foi concedida à Rádio Cruzeiro do Sul que pertencia a um grupo de iluminação.Sendo assim, o presidente do grupo ofereceu aos clubes, iluminação das partidas, em troca da exclusividade na transmissão.

Contudo, a proibição imposta às outras emissoras não impediu que, alguns narradores realizassem a irradiação, do alto de escadas posicionadas ao lado do campo, de cima do telhado de alguma casa vizinha ao estádio, ou mesmo com a utilização de binóculos.



O primeiro comentarista foi o jornalista gaúcho Ary Lund. Aproveitado pelo então locutor Gagliano Neto, sua função era dar a opinião sobre o desempenho dos times, dos jogadores e comentar as principais jogadas no intervalo. Os jogos eram realizados pelo Campeonato Sul-Americano de 1936, em Buenos Aires.

Gagliano também foi responsável pela primeira transmissão futebolística em rede nacional no Brasil. Foi à copa de 1938 sediada na França, na ocasião a Europa já estava sofrendo a dominação do nazismo e do fascismo. A seleção brasileira foi eliminada na semifinal pela Itália. Um dia após a partida sobre o Brasil, o jornal “La Gazzetta dello Sport”, influenciado pela ideologia fascista, escreveu: “Saudamos o triunfo da inteligência branca italiana sobre a força bruta dos negros”. Na final contra a Hungria, seleção Italiana se sagrou a primeira bicampeã do torneio.

De volta ao Rio de Janeiro, Gagliano Neto fez do jornalista Pilar Drumond, do jornal A Noite, seu comentarista no intervalo das transmissões. Ary Barroso, o popular Homem da Gaitinha, entregou o intervalo de seus jogos, na Rádio Tupi, a José Maria Scassa, formando uma dupla apaixonadamente rubro-negra.

Os repórteres esportivos merecem destaque. Foram eles os responsáveis pelas primeiras reportagens nos vestiários, dentro do campo de jogo e, posteriormente, nos clubes, apesar das dificuldades e do peso dos equipamentos. Eram eles também que atualizavam, com freqüência, os resultados dos outros jogos, divulgados pelos locutores.

A reportagem ganha maior reconhecimento a partir da criação do primeiro Plantão Esportivo, na Rádio Pan-americana, de São Paulo (hoje Jovem-Pan), em 1948.

No dia 1 de abril em algum ano próximo a copa de 50 o locutor esportivo Geraldo José de Lameida da Rádio Record irradia um jogo inteiro do time do São Paulo que estava excursionando pela Europa. No final da partida um resultado q chocou os torcedores o São Paulo havia pedido por 7x0.No dia seguinte a Rádio Record anuncia que tudo na passou de uma farsa, o jogo nem existiu foi uma brincadeira de 1° de Maio.

Devido à falta da imagem, que não permite que o ouvinte saiba o que é real ou não sem se saber o que seria real ou não, a partir de 50 o rádio começa a perder ouvintes para um novo veículo: A TV

A feroz concorrência

O rádio reinou soberano até 1950, com a chegada ao Brasil, de um novo meio de comunicação: a televisão. A sua programação, ao longo dos primeiros anos, da mesma forma como aconteceu com o rádio, também foi direcionada à elite, por causa do elevado custo dos aparelhos, que eram importados. Grande parte das empresas que investiam no rádio considerou ser mais vantajoso aplicar os recursos em anúncios na televisão. Sendo assim, os principais profissionais de rádio migraram para a televisão, entre eles, alguns locutores esportivos. De acordo com Cardoso e Rockmann (op. cit.), os produtores e técnicos acabavam enlouquecidos porque a maioria dos funcionários da televisão veio do rádio e trouxe consigo a linguagem radiofônica. Desta forma, não estavam adaptados à televisão e ao seu principal produto: a imagem.

Alguns locutores de rádio costumavam supervalorizar ou inventar determinados lances a fim de manter o ouvinte sintonizado na emissora na qual eles trabalhavam. Entretanto, o início das transmissões de futebol pela televisão fez com que os locutores de rádiofossem mais fiéis na descrição das jogadas, porque, já naquele momento, algumas pessoas assistiam à partida com o volume do televisor baixo e ouviam pelo rádio. Como mencionado, com o surgimento das transmissões pela televisão, diversos locutores migraram do rádio para esse novo meio de comunicação. Aurélio Campos, Ari Barroso, Raul Tabajara, Walter Abrahão, Raul Longras e Geraldo José de Almeida, entre outros, são alguns desses exemplos. Com o tempo, outros narradores trocaram o veículo no qual atuavam.

Alguns desses profissionais levaram consigo a agilidades de narração que realizavam no antigo veículo e poucos conseguiram se adaptar. Dono de uma grande capacidade de comunicação, Geraldo José de Almeida, conseguiu adaptar-se à linguagem da TV e foi um dos poucos narradores do radio jornalismo esportivo a dar certo no novo meio de comunicação.

Durante a Copa do Mundo de 1982. “Persistia a situação de inferioridade da narração na TV”. A TV Globo adquiriu os direitos exclusivos de transmissão desse evento, nesse meio de comunicação, para o Brasil. Nesse mundial, o narrador titular dessa emissora foi Luciano do Valle. A autora afirma que a venda de publicidade foi um sucesso. Por outro lado, a direção da TV Record comprou as cotas para a Rádio Record e requisitou que o narrador de televisão, Silvio Luiz, realizasse as locuções. Naquele momento, nas transmissões de futebol, a TV Record era a maior concorrente da TV Globo, principalmente porque Silvio Luiz introduzira uma série de bordões durante a narração, diferenciando-a do tom burocrático dos locutores da Globo. Rádio Record investiu na campanha publicitária “Veja a Copa na TV, mas ouça com o coração... na Record”





Criatividade refletida em expressões.


Durante as transmissões, é comum encontrarmos expressões criadas pelos locutores esportivos, através de uma linguagem estereotipada e redundante, abundante em sinonímias. Elas, em vez de revelar pobreza de imaginação, constituem-se de forma mais breve e inteligente. Antes, a gaitinha de Ary Barroso sinalizava para o torcedor o gol. Hoje, expressões como “lá onde a coruja dorme”, “passou tirando tinta da trave”, “no pau” e “isolou (a bola)”, por exemplo, contextualizam o chute e compõem uma imagem do desfecho do lance.

Outras como “artilheiro”, o especialista em fazer gols e destruir os adversários, mantém uma conotação belicista, associando o futebol a uma guerra, ou, mais recentemente, “matador”. Além disso, adjetivos hiperbólicos também são comuns dentro do esporte sempre que nos referimos aos grandes goleiros como “goleirões”, “muralhas humanas” ou “paredões”, quando associamos bons zagueiros a “becões”. Da mesma forma que os meio-campistas habilidosos em lançamentos e que procuram alternar as jogadas de ataque adquirem o status de “maestros”.

Ao longo da evolução do rádio esportivo, usando e abusando da criatividade, os narradores criaram toda uma linguagem específica buscando, no dia-a-dia dos torcedores, expressões da linguagem popular que pudessem enriquecer as transmissões. Mário Filho criou a sigla Fla-Flu que designa o mais colorido e vibrante dos clássicos cariocas, enquanto seu irmão, Nélson Rodrigues, imaginou e materializou os personagens Sobrenatural de Almeida e Gravatinha para explicar o inexplicável ou justificar o injustificável.

O ouvinte foi convidado a participar do espetáculo como parte do jogo, através da utilização de uma retórica trabalhada por amplificações. O narrador dá um novo sentido à metáfora tradicional. Logo, o torcedor adota esse novo significado e passa a repeti-lo à exaustão. Na narrativa radiofônica esportiva, o uso da retórica estimula a visualização do jogo, abrindo espaço para a fantasia e o próprio sonho do espetáculo.





Atualidade

A emoção faz com que o jornalismo esportivo esteja sempre em uma linha tênue entre a pieguice e a razão. Costuma se dizer que não há boa cobertura esportiva sem emoção, mas o jornalista não pode se deixar levar por ela.

O jornalista deve ser imparcial. Embora ela seja utópica. Todo jornalista é um ser humano, com preferências políticas, religiosas e culturais. Mas tudo isso deve ser deixado de lado para a prática do bom jornalismo.

O jornalista esportivo precisa ser completo. É obrigatório que o mesmo saiba de política, economia e justiça já que esses assuntos também movem o universo esportivo.

Hoje o rádio ainda tem grande importância nesse cenário. O rádio está em todos os lugares, chega a pontos aonde a TV não chega. Vários torcedores ainda usam seus radinhos de pilha para acompanhar as partidas na arquibancada, no rádio se ouve todos os esportes, desde o tradicional futebol, passando pelo vôlei, chegando a Fórmula um.

Atualmente narradores e jornalistas esportivos estão sendo obrigados a inovar. Eles necessitam empregar uma nova roupagem aos seus textos, mudando o jeito de abordar seus entrevistados, respeitando a linha profissional e pessoal de cada um. Além da necessidade de se encontrar um novo estilo de narração. Estilo que não caia no ridículo, que informe precisamente, mas sem deixar de lado à emoção.

O veículo e a sociedade evoluíram, mas a narração se espelha na mesma linha por 50 anos. Um modelo arcaico que não condiz com a atualidade. As mudanças na transmissão esportiva foram poucas, mas contribuíram para um melhor entendimento dos esportes

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1 comentários

  1. É fato que o jornalista deve manter a imparcialidade, no entanto, é válido lembrar que futebol, em nosso país principalmente, trata-se de entretenimento e é sinônimo de paixão. Por esses motivos, o padrão "quadrado" não parece bem se adaptar ao Jornalismo Esportivo. Creio que o saudoso programa Show de Rádio fez grande diferença na maneira como a cobertura esportiva, do futebol, especificamente falando, é feita. A mistura de humor e informação, comumente utilizada em muitos programas da atualidade e por muitos jornalistas da área de esportes, é uma receita antiga, vinda do gênio Estevam Victor Leão Bourroul Sangirardi, mais conhecido como "Sanja", há quase meio século. Não por menos, o brilhante Sanja ficou conhecido como o Rei do Rádio Esportivo-Humorístico.
    Trocando em miúdos e valendo-me da expressão comum, no Jornalismo Esportivo cabe, e até mais apropriadamente - na minha humilde opinião -, "tirar o terno e a gravata e colocar a bermuda e o chinelo".

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